Muitas vezes é difícil para nós enquanto adultos, deixarmos as crianças errarem.
Contudo, quando trabalhamos com crianças de diferentes idades e, consequentemente, diferentes anos de escolaridade, torna-se interessante observar as suas atitudes em relação os novos desafios propostos.
É comum que no início do ano, ainda reine a alegria de rever os colegas e o cheiro dos livros novos. Muitas vezes, estar de volta ao centro de estudos e às rotinas é também apreciado.
Devemos mesmo deixar as crianças errarem?
O reinício deixa prometer tantas aprendizagens, enquanto se olham entre si, vaidosos, e até confiantes em relação aos seus colegas mais novos que, segundo eles, têm “Trabalhos de casa tão fáceis que até um bebé fazia”.
Mas, olham também admiração ao ver os mais velhos a resolver exercícios que mais parecem feitos para génios matemáticos. Mas será que é sempre assim?
A verdade é que aos poucos tudo começa a mudar. A exigência aumenta e, com esta, é esperado o desenvolvimento das competências de cada criança:
- Raciocínio mais ágil
- Maior organização
- Mais empenho
- Letra mais bonita
- Mais rapidez
- Mais autonomia
Todos estes “mais” surgem invariavelmente associados a tantos outros “menos”:
- Menos tempo para brincar
- Menos ajuda dos pais
- Menos tolerância por parte de todos…
É neste ponto que muitas vezes conseguimos conhecer uma criança. É aqui que começa a deixar transparecer com mais nitidez a sua personalidade, a forma como gere emocionalmente as situações com que se depara, os erros, as vitórias…
Na verdade, esta é a fase em que devemos deixar as crianças errarem para elas próprias aprenderem.
Se temos crianças que nos chegam radiantes de teste em punho para nos mostrar o resultado do seu teste, outras temos que os escondem e os “perdem”. E, algumas até, que os assinam em nome dos pais para os devolver aos professores.
Errar é uma aprendizagem a ser feita. Aprender a errar só pode ter um desfecho: aprender a ser bem-sucedido!
Se não deixamos as crianças errarem, estamos a limitar-lhes as opções e, embora achemos que lhes estamos a facilitar a vida, a verdade é que estamos a torná-los adolescentes e adultos menos capacitados.
O vermelho da nota não tem de significar uma falha
Para a maior parte dos alunos, o vermelho da esferográfica que dita a nota, tem apenas um significado: falha. Falha perante o professor, os colegas, os pais e, especialmente, para consigo próprio.
“Onde é que errei?”, “Se passasse mais tempo com ele, isto não aconteceria…”, “Se tivesse mais estudos, poderia ajudá-lo melhor”, “Gasto tanto dinheiro contigo e mesmo assim não resulta em nada!” – Também os pais se sentem a falhar.
É incrivelmente frustrante a sensação de se fazer tudo o que está ao alcance e, mesmo assim não ser o suficiente para corresponder às expetativas!
O que precisamos compreender é que os erros são uma oportunidade para melhorar. Mais do que convencermo-nos imediatamente de que temos um filho “preguiçoso” ou “burro”, é preciso perceber por que razão está a errar.
É importante ter em mente que as crianças encaram os erros de forma puramente emocional.
É isto que justifica o facto de raramente terem em consideração as propostas de melhoria dadas pelos professores ou de odiarem ter a correção do teste como trabalho de casa.
Erram e sentem-se burros. Sentem vergonha e, como todos nós, aprendem a evitar tudo o que os deixe embaraçados (daí ser importante as crianças errarem sem que nós as condenemos).
O sucesso escolar está muitas vezes mais ligado à forma como se sentem os alunos em relação aos seus erros do que em relação à sua motivação ou capacidades.
Este é um ciclo perpétuo. Tendemos a encarar as experiências futuras com base nos desfechos de acontecimentos passados.
Errar conduz-nos ao medo e leva as crianças a acreditar de que não serão capazes. Se não se sentem capazes, para quê tentar?
Será sempre mais fácil se sentirem que erram porque não se esforçaram do que sentir que erram apesar de todos os seus esforços.
Como ajudar então as crianças que têm medo de errar?
O foco principal deve ser ajudar os seus filhos a alterar a forma como se sentem perante os erros. Mostrar-lhes não que erraram, mas ajudá-los a perceber no que é que erraram especificamente.
Quando olhamos para um teste de formas simplista, o que salta à vista é sempre o número de questões erradas.
Mas o que realmente importa é perceber de forma racional o que é que não foi corretamente aprendido, pois só assim o aluno será capaz de direcionar o seu estudo futuro.
Não interessa se errou a pergunta 5, interessa por exemplo compreender que a pergunta era sobre a segunda guerra mundial e que é esse o conteúdo a ser trabalhado de novo.
Os erros assinalados nos testes referem-se a questões concretas:
- O aluno não memorizou informação suficiente ou memorizou informação errada
- Ou não respondeu diretamente ao que era pedido ou não justificou as suas respostas.
O erro mostra apenas que é necessário fazer ajustes. E todos estes ajustes são sempre menores do que a forma pesada como os alunos se sentem após o erro.
Sente-se com o seu filho e, em conjunto identifiquem o que é necessário trabalhar. Falem abertamente e resolvam os erros de forma pragmática e racional.
“No hard feelings – Practice makes perfect!”